A revolução chinesa na Pecuária do Brasil

A revolução chinesa na Pecuária do Brasil

ASBRAM dedica dois momentos especiais para debater o mercado nacional e internacional de carne bovina e vislumbra: os chineses revolucionaram a qualidade de nossa pecuária em quatro anos; existem 160 mil produtores que podem investir na melhoria da nutrição dos rebanhos e o Brasil vai ultrapassar os EUA na produção da proteína, vivendo um turbilhão positivo até o fim desta década

São duas décadas de aprendizado, que devem servir de reflexão para todos os atores da cadeia produtiva de carne bovina do Brasil, uma das três mais poderosas do planeta. E isso depois de três anos intensos, de fortes altas e baixas nos preços da arroba e da proteína. O ano passado foi emblemático. Uma oferta gigantesca de carne, que não foi amenizada pelas excelentes exportações, e que derrubou as cotações do preço do boi gordo. As fazendas viram a entrada de dinheiro diminuir bastante, principalmente aquelas que usam pouca tecnologia. Mas o período, mais uma vez, pode ser didático para os pecuaristas aprenderem como é importante a gestão profissional da atividade. Nos momentos ruins, a melhor escolha pode ser investir comprando animais, consertando a cerca quebrada, cuidando das águas, adubando as pastagens e cuidando da suplementação mineral do rebanho.

A proposta de mergulhar neste debate e mirar com mais precisão os negócios motivaram a Associação Brasileira das Indústrias de Suplementação Mineral (ASBRAM) a utilizar dois encontros consecutivos do calendário anual da entidade para reunir, em São Paulo, profissionais, executivos e especialistas que lotaram o auditório montado pela entidade em um hotel na região dos Jardins. “Podemos dizer que, hoje, a pecuária do Brasil está diferente, se comparada com o início deste século. E isso se dá fortemente por três motivos: a necessidade de investimentos tecnológicos no segmento; a profissionalização provocada pela China, que até 2015 não importava quase nada e a partir de 2019 passou a ser um grande comprador, firmando um acordo com exigências que provocaram um salto na qualidade do animal que abatemos, e o trabalho de setores como da suplementação mineral, que fornece os insumos para dar suporte ao avanço da pecuária profissional”, esclareceu o engenheiro agrônomo Maurício Palma Nogueira, diretor da Athenagro, coordenador do Rally da Pecuária e um dos especialistas mais respeitados no tema.

Maurício Palma Nogueira foi o escolhido para movimentar e coordenar as duas jornadas. De cara, ele enfatizou que sempre alertou que haveria maior rigor técnico na pecuária e isso dificultaria a continuidade no trabalho de quem não seguisse a regra. A modernização exige patrimônio ou capital para investir. E a velocidade da mudança agora é outra. Já foi mais lenta, há dez ou quinze anos, e não é mais. Desde 2003, muita coisa mudou. A produção avançou, os embarques do Brasil batem recordes sem parar e vão permanecer fortes em 2024, sendo quase o dobro do segundo colocado no ranking. Cresce mais em volume do que em faturamento, mas os chineses atuam fortemente. As vendas externas vêm sustentando os valores da carne aqui dentro.

Por outro lado, o preço do boi desabou no mercado interno depois da euforia nos anos da pandemia. Em 2023, os pecuaristas viveram a maior queda nominal do preço do boi, desde a consolidação do Plano Real. Quem usa pouco ou nada de tecnologia teve grande prejuízo. E recuperar sem investir não vai adiantar. “O segundo semestre pode trazer uma certa recuperação. Já existem cenários projetando que o mercado possibilitará elevar os preços do ano em até 2% quando comparado ao de 2023. E o mercado está surpreendendo. Entre janeiro e abril, as exportações aumentaram 37% quando comparadas ao primeiro quadrimestre do ano anterior. E, ainda assim, a disponibilidade de carne bovina no mercado interno aumentou 30%. Isso se deve ao recorde do abate de bovinos no mercado formal, indicando um aumento de 32% na produção de carne bovina. O brasileiro está suportando o aumento na oferta de carne, o que é um bom sinal. Depois de anos de maus resultados no mercado interno, os frigoríficos também estão colhendo bons resultados, lembrando que se trata de uma atividade muito desafiadora do ponto de vista gerencial. A quebra de empresas marca a história do setor frigorífico no Brasil”, pontuou.

O diretor da Athenagro acrescentou que o setor tem um desafio grande para conduzir nos próximos anos. ‘Tudo conspira’ para o Brasil crescer ainda mais. O mundo está demandando cada vez mais, os conflitos bélicos existentes ainda não causaram grandes interrupções no movimento de alimentos e existe logística para atender outros países, tanto é que o Basil vem celebrando a abertura de novos mercados. “A oscilação do dólar não altera com nossas vendas de carnes, embora mexa com o faturamento. Em relação aos demais players, estamos numa situação muito confortável com a carne bovina e precisamos aproveitar. No cenário internacional, os Estados Unidos devem fechar 2024 com um déficit de 600 mil a 650 mil toneladas de carne bovina na balança comercial, ao mesmo tempo em que a elevação do consumo na Índia vem reduzindo sua disponibilidade de carne para exportação. É um turbilhão se formando a favor da pecuária brasileira”, ressaltou Nogueira. Ele ainda acrescentou que a produção brasileira deve passar a produção norte-americana nos próximos anos, antes de 2030.

A pecuária de hoje é diferente. O mundo mudou e a pecuária também. O perfil de dieta está mudando no campo, respondendo em produtividade. A quantidade de arrobas produzidas vem aumentando nos machos e nas fêmeas abatidas. Contrapondo a maior parte das opiniões sobre o assunto, o consultor acredita que o acordo ratificado com os chineses foi positivo. “O acordo comercial entre ambos os países foi celebrado em 2015. No mesmo ano, a participação da China nas exportações brasileiro passou de ‘quase nada’ para 6,7%. É preciso considerar o contexto daquele momento, embora, evidentemente, seja importante sempre revisar e atualizar pontos que possam melhorar as relações comerciais”, ressaltou. Nogueira reforçou que, além da importância comercial, considerando quantidades e proporções de cada bovino abatido no conjunto exportado, as exigências da China acabaram por imprimir uma nova revolução na pecuária brasileira. “Ao exigir carne produzida a partir de machos com idade até 30 meses, os chineses fizeram mais pela sustentabilidade do que todas as pressões e exigências juntas, durante anos, feitas pela União Europeia”, defendeu.

Os dois encontros da ASBRAM terminaram com a pergunta que persegue a pecuária nas duas últimas décadas: quem fica e quem sai do jogo? O abate formal do Brasil atingiu 34,1 milhões de cabeças em 2023 e a produção alcançou 8,9 milhões de toneladas, com peso médio de abate subindo graças à nutrição, mesmo com os pecuaristas ainda pecando muito no cuidado com as pastagens. Dentre os diversos pontos favoráveis do momento, o consultor observou que o estoque de fêmeas improdutivas está diminuindo, o que pode ser constatado pela mudança histórica no perfil do abate. “Não basta apenas olhar a proporção do abate de fêmeas nos momentos de alta e baixa do mercado. É preciso avaliar o comportamento histórico e qualificar o perfil do abate, separando entre vacas e novilhas”, lembrou Nogueira. “Os sinais são claros. Os níveis de produtividade estão aumentando e o momento favorece os produtores que tiverem condições de investir. Os grãos permanecem com preços baixos e as relações de troca ainda ajudam (para não repetir o mesmo verbo) os compradores, o que tende a mudar em poucos meses”, reforçou.

Maurício atentou que o pecuarista precisa estudar e entender as mudanças e planejar-se para não ser excluído da atividade. Porém, a tecnologia exige investimentos. A distância entre os menos produtivos e os mais produtivos aumentou, o que deixa duas realidades distintas na pecuária de corte. A partir de agora, produtor de baixa tecnologia encontra mais dificuldades para incrementar o nível de produtividade de sua fazenda. E essa dificuldade resulta da falta de recursos para investir no processo. Atento a todo o debate ambiental, o consultor ainda lembrou que sustentabilidade se faz com produtividade. Em suas palavras, “intensificar a produção é a única maneira de proporcionar ganhos financeiros, ambientais e sociais, tanto para as pessoas da cidade, como do campo. Qualquer proposta que imponha limites à produtividade e à eficiência no uso de cada hectare será, por definição, insustentável, mesmo que a maior parte dos ambientalistas ainda não tenham entendido”, reforçou.

Os eventos terminaram com a diretoria da Asbram reafirmando as ações que são capitaneadas no sentido de ajudar na profissionalização da pecuária nacional. Caso da presença em várias reuniões em Brasília na luta pela isenção da cobrança do imposto PIS – Cofins sobre os suplementos minerais que garantem a qualidade, maior produção e boa nutrição dos bovinos brasileiros, indispensáveis para a saúde de brasileiros e consumidores do mundo inteiro. E a viagem especial para os Estados Unidos, o Beef Tour ASBRAM 2025, para participação das empresas no encontro dos pecuaristas americanos, o NCBA, maior evento da pecuária mundial tecnológica, e visita a vários confinamentos de bovinos dos Estados Unidos.

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