Asbram 2024: Fazenda Verde é Fazenda Azul no balanço!
Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais fecha o primeiro semestre debatendo crédito de carbono, virada do ciclo pecuário, sustentabilidade ambiental e financeira, além de destacar as profissionais da cadeia de carne bovina e leite
Foi um dia intenso e inédito na pecuária brasileira. Três apresentações seguidas comandadas por mulheres, que atuam em empresas globais de fertilização de pastagens e insumos dirigidos à nutrição moderna e tecnológica dos rebanhos do país. E um mergulho profundo para destacar todos os investimentos que vêm sendo realizados em nome de Sustentabilidade e descarbonização das atividades de pecuária de corte e leite do Brasil. “No fundo, o que importa realmente é que os nossos pecuaristas adotem todas as boas práticas de produção, já consagradas, sobre preservação do meio ambiente da propriedade, o bem estar dos animais, o manejo correto e indicado, o uso de novas tecnologias, a boa nutrição, cuidado com sanidade e intensificação dos processos produtivos. Independentemente da estrutura da fazenda. Cada uma com seu nível de investimentos. Isso é vital para o negócio de todos, perseguir eficiência contínua e produtividade crescente. Com isso, ele estará automaticamente habilitado como cumpridor das exigentes normas legais brasileiras, ter produtos de valor agregado maior e ainda se candidatar a créditos adicionais por projetos de descarbonização propostos por vários agentes que atuam ao longo da cadeia”, opinou Sabrina Coneglian, Zootecnista e Gerente de Pecuária na Mosaic Fertilizantes, gigante da área de agrominerais para a produção de alimentos. Ela expôs a sua visão para reforçar a diferença que precisa ser entendida pelo setor quando se fala de Sustentabilidade, ESG (Governança ambiental, social e corporativa) e o papel da pecuária diante das mudanças climáticas. “Hoje, todos sabem e está claro o que é fazer melhor, mais rentável, mais tecnológico, mais correto e mais indicado a obter ganhos satisfatórios dentro da pecuária, na indústria e no varejo”, emendou.
É um caminho perseguido há tempos por outro ator global de fertilizantes e nutrição de plantas, que iniciou atividades na Noruega em 1905, mantém 27 indústrias no planeta e suporta atualmente várias estratégias para criar valor aos clientes com produtos e soluções de baixa intensidade de carbono. “Estamos caminhando com várias ações e muitos projetos nesse sentido. E tendo 2050 como o momento de atingirmos o estágio de emissão zero em todas as nossas operações”, informou Renata Ferrari, Engenheira Agrônoma e Gerente de Descarbonização da Yara Industrial Solutions no Brasil. Ela fala que a indústria mundial de fertilizantes é responsável por 1,8% da emissão de Gases de Efeito Estufa e reconhece essa responsabilidade importante.
“Já diminuímos em 45% nossa emissão nos últimos quinze anos. E miramos outros 30% até 2030. Sabemos que é pouco tempo, mas corremos atrás. Temos grupos de projetos rodando em cada fábrica no planeta. Amônia, ureia e nitrato com baixa pegada de carbono. Uma nova rota com gás natural renovável. Jornada que começamos no Brasil ao lado da Raízen. No mundo inteiro, temos projetos pilotos pelo caminho do hidrogênio verde. E ainda a nossa grande aposta, duas grandes plantas que entrarão em operação nos Estados Unidos, na fronteira azul da Amônia. Ainda usada com gás natural, fóssil, mas capturando todo o CO2 emitido pela planta e estocando em reservatórios geológicos. Nossa cadeia de valor vai ajudar os clientes a descarbonizar os negócios deles. Seja em carne, soja, açúcar, etanol. Enfim, tudo com menor intensidade de carbono”, sacramentou.
Mas as apresentações do encontro da Asbram deixaram claro que a árdua tarefa ambiental e produtiva dos pecuaristas brasileiros ainda está longe de ser recompensada financeiramente pelos mercados. O alerta é de Nélida Silvero, Engenheira Agrônoma e Cientista de Dados na equipe de ciência da Agoro Carbon Alliance, empresa criada pela grupo Yara Internacional em 2021, focada na criação de créditos de carbono na agricultura e pecuária, além de dar assistência técnica para os produtores investirem em práticas conservacionistas e participar de um mercado em expansão. “É um tema ainda recente, surgiu por volta de 2020. Manter o carbono no solo é um processo longo, exige empenho do produtor. Envolve projetos que demoram até gerar créditos. Sete anos para as primeiras emissões. E, depois, o monitoramento da efetiva contribuição da fazenda e do processo produtivo”, alertou.
Para complicar mais um pouco, Nélida informou que o maior potencial dos créditos é nas áreas atualmente degradadas. Quem já cuidou da sustentabilidade ao longo dos últimos anos, fator extremamente positivo sob todos os aspectos, não vai ter prioridade neste novo mercado. “Sempre tem algo a fazer em qualquer fazenda mesmo depois de trabalhar bem nesse aspecto. De qualquer maneira, é um movimento que está engatinhando. Mas vai crescer. E prezar pela qualidade, com verificadores internacionais, auditores externos que checam o cumprimento de todas as diretrizes, práticas corretas e, ao final, das empresas interessadas em comprar de quem está realmente investindo em créditos de qualidade. Com selo da certificação internacional, inclusive”, garantiu Nélida Silvero.
O encontro da Asbram mostrou como as novas exigências da sociedade moderna devem nortear a trajetória dos pecuaristas tanto quanto os preceitos tradicionais que envolvem a produção no campo, como o Ciclo Pecuário. O aviso foi dado pelo Médico Veterinário, Pecuarista e analista do mercado do boi gordo com a publicação ‘Notícias do Front’, Rodrigo Albuquerque, convocado pela entidade para três apresentações ao longo de 2024, e desenhar e antecipar o que o mercado do boi gordo sinaliza na direção de boa comercialização da carne bovina. “Minha primeira análise foi realizada na reunião de fevereiro e agora, quatro meses depois, procurei mostrar o que foi realidade. E posso garantir que a virada do ciclo pecuário já começou. Inclusive na minha atividade de criador. Os preços estão compensadores, há menos oscilações bruscas e a hora é de apostar em formar rebanhos para anos mais satisfatórios, que certamente ocorrerão em 2025 e 2026. Os ciclos devem ensinar os pecuaristas e não atormentá-los”, brincou.
Rodrigo também aconselhou que as indústrias de suplementos minerais examinem o ciclo continuamente, inclusive auxiliando os pecuaristas, clientes e quem ainda não usa minimamente as tecnologias de nutrição. E caprichou nas perspectivas. “O passado nos ensina que, depois de anos vermelhos, sempre vêm um ou dois anos amarelos, para só então chegar um verde. O ano passado foi horroroso. A gente ainda está na UTI, não está bacana. Mas no segundo semestre vai melhorar, o abate de fêmeas já começou a ceder, a arroba vem reagindo e o clima vai ajudar na retenção do gado no próximo verão. E no ano que vem e em 2026 a gente vai namorar um crescimento mais robusto”, estimou.
Ainda batendo na tecla do Ciclo, Rodrigo insistiu que o leme dos preços pecuários está na base da cadeia, na decisão do criador em abater ou reter as fêmeas. “Precisamos entender essa dinâmica. O pecuarista e a indústria de suplementos minerais. Se as empresas dominarem as variações tradicionais, também usará o ciclo a seu favor. É bom para todo mundo”, avisou. Bom também é o futuro de toda a cadeia. O analista acredita na força dos diferenciais oferecidos pela atividade no Brasil. “Temos o pasto ABC (Agricultura de Baixo Carbono), o solo vivo, a cria, a força da fêmea Nelore e a fotossíntese tropical. As exportações serão recordes. A demanda interna está hesitando, mas melhora se o preço da carne vermelha estiver competitivo. O bolso do consumidor é quem manda. E não podemos deixar de travar bons preços na bolsa. Fazendo média para cima. É necessário sabermos que, para a fazenda ser Verde, precisa estar Azul nas contas. Gerando condição. Sustentabilidade financeira de mão dada com a sustentabilidade. Ninguém vai fazer a coisa certa perdendo dinheiro o ano todo”, finalizou.