Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais identifica os dados que mostram um novo ciclo pecuário, mais ágil e reflexo de preços e produção de carne bovina
É um novo ciclo pecuário. De menor duração e fruto de inúmeras ações. Profissionalização dos pecuaristas, animais precoces, rebanhos mais novos e eficientes. Foco total na produção de carne e nos preços recebidos pela arroba. Uma revolução que promete avançar com ainda mais velocidade nos próximos dez anos. Um diagnóstico desenhado pelo agrônomo e coordenador do Rally da Pecuária, Maurício Palma Nogueira, e debatido com representantes das empresas que integram a Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (ASBRAM) no fim de abril passado. A entidade reúne 72% do mercado brasileiro de suplementação. “É notória a qualificação dos pecuaristas e esse movimento vai se intensificar até 2035, com crescimento de abates, exportação e produção. A visão do negócio mudou. A verdadeira questão não é mais abate e rebanho. A carcaça pode não mais balizar o preço do boi. É produção de carne e rebanhos mais novos e eficientes. O que interessa é produzir”, analisou. “O brasileiro e o mundo quer cada vez mais carne”, ponderou Elizabeth Chagas, Vice-presidente Executiva da Asbram.

Maurício Palma adiantou que o Brasil deve produzir quatorze milhões de toneladas de carne bovina daqui uma década, mas vai ultrapassar os Estados Unidos já em 2028. E exportando cinco milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, convivendo com um processo de exclusão de quem não faz tecnologia. “Há muita evolução no segmento. Eventos de alto nível e investimentos em assistência técnica, reprodução, melhoramento genético. O mercado está se formalizando. E fazendo tudo com bastante sustentabilidade. Usando plantio direto, integração, biológicos, forragem de qualidade e rodízio de culturas. Olhamos agora para o abate e não para quem nasceu. Os animais estão chegando mais cedo à prenhez e à indústria. Por isso, temos que projetar o ciclo pecuário de outra maneira”, acrescentou.
É essa realidade que motiva Maurício Palma a enxergar com cautela a comercialização de animais em 2025. “Já são oito meses seguidos de alta no preço no boi. O confinamento está bem, a produção no primeiro trimestre deste ano ficou 7% acima do mesmo período de 2024. Podemos fechar o ano com a arroba em R$ 330. Mas o pecuarista deve ficar de olho no mercado futuro porque ele já está sinalizando boa margem para a venda. São 17,4% de avanço no período. O mercado está estimulado, vale a pena comprar e vender bezerro. Não tenho certeza se a arroba vai subir ou descer. Mas, hoje, o momento favorece os negócios. Os produtores podem aproveitar para travar algumas transações, pois não é certo que a arroba possa ser ainda mais valorizada. De certo é que a situação está boa agora. Aproveite”, salientou.
Outro ponto salientado durante a reunião foi que os investimentos nas fazendas brasileiras vão dobrar e a área que mais pode contribuir é a Nutrição. “Produzimos em 100 milhões de hectares e temos 60 milhões ociosos. E temos muito para avançar em qualidade de pastagem. Mas sou otimista. Sempre acreditei que, em alta tecnologia, a Pecuária ganha da Agricultura”, decretou Maurício Palma Nogueira. A opinião vem embalada pelos ótimos números da comercialização de suplementos minerais em 2025. No primeiro trimestre, foram comercializadas 535,7 mil toneladas, um avanço de 4,75% sobre o mesmo período do ano passado. Elevação de 4,7% na pecuária de corte e de 3,5% na pecuária de leite. “Só em março, o crescimento alcançou 6% sobre o mesmo mês do ano passado. O panorama pecuário é favorável. Foram 39,3 milhões de cabeças abatidas em 2024 e mais de 10 milhões de toneladas produzidas. A oferta segue boa e a demanda aquecida, no mercado interno e externo. Isso tudo ajuda o pecuarista a investir em tecnologia. Porém, é necessário atenção ao cenário brasileiro e internacional. Não está fácil fazer prognósticos, o tabuleiro está bastante embaralhado. O mundo vai crescer menos, a guerra fiscal causa turbulência e o Brasil tem problemas próprios e graves, como o déficit fiscal. Mesmo assim, é muito razoável ler um panorama positivo para a nossa carne bovina. A confiança da população mundial caiu bastante, mas é certo que, em qualquer panorama, o ‘universo agro’ vai sofrer menos”, apontou o professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), pesquisador da GVAgro e coordenador do Painel de Comercialização da Asbram, Felippe Cauê Serigati.

O olhar positivo é dividido com os profissionais das empresas de nutrição, mas com várias preocupações. As principais são a sanidade do rebanho, a possibilidade de taxação do agro pelo governo federal, a alta taxa de juros, o câmbio instável e a campanha eleitoral brasileira. “Colocamos carne bovina no mercado interno mesmo exportando mais de 3,7 milhões de toneladas. Isso não era visto nas melhores projeções. Mas o futuro exige muito cuidado e gestão pelos empreendedores rurais e por toda a cadeia produtiva’, aconselhou Maurício Palma.
O encontro da Asbram contou com a apresentação de Juliano Sabela, ex-presidente da Asbram, e mostrou cinco palestras ao longo de todo o dia, que trataram de assuntos como a importância da sanidade das sementes de forragem e culturas de cobertura utilizadas nas fazendas brasileiras, além das rígidas normas governamentais de registros e controles das atividades das empresas que atuam no mercado de insumos agropecuários.