Especialistas reunidos pela Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais reconhecem impacto negativo inicial, sugerem negociação ao governo brasileiro, porém confiam em bons números de exportação e consumo interno até o fim do ano.
A economia brasileira permanece crescendo, com renda, emprego e crédito aquecidos. O que mantém o consumo de carnes pelo brasileiro. Os Estados Unidos têm mais a perder deixando de comprar a nossa carne. E o mercado mundial é dinâmico, consome cada vez mais a proteína e substitui com extrema rapidez os fornecedores de um produto quando ocorrem embargos ou aumento de tarifas.
Essas foram as principais conclusões do debate que ocorreu na última quinta-feira, em São Paulo, durante nova reunião mensal promovida pela Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (ASBRAM), que levou profissionais das empresas do setor e especialistas como Antonio Ferriani Branco, zootecnista, professor de Nutrição Animal na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e 35 anos de experiência como consultor em produção de bovinos e formulação de rações; Cleocy Junior, Diretor de Unidade de Negócios Ruminantes da Phibro Saúde Animal; Alcides Torres e Pedro Gonçalves , agrônomos e analistas da Scot Consultoria, e Felippe Cauê Serigati, pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV Agro e coordenador do painel de comercialização da Asbram.
“Os Estados Unidos são o segundo maior comprador de nossa proteína vermelha, de 12% a 15% das exportações brasileiras. A taxação de 50% é ruim, provocou queda na bolsa de valores, cancelamento de compras pelos frigoríficos, alongamento das escalas e férias coletivas. Mas, com o tempo, acreditamos que vai imperar a realidade de que é bom negócio comprar a carne brasileira. Ela é bem mais barata do que aquela oferecida pelo mercado americano. Sem falar que o consumo de carne bovina no mundo está crescendo, principalmente por causa dos países asiáticos. A reposição de importadores não seria tão demorada. Ainda tem os preços de milho e farelo de soja caindo. E cenário ascendente na arroba”, explicou Alcides Torres, o ‘Scot’.
Os debatedores falaram que o aumento exagerado das tarifas pelo governo norte-americano terá um efeito pequeno sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que vai perder menos do que os EUA. Mas isso não é motivo para reagir com violência contra a economia mais poderosa do planeta. “É bom não retaliar. O melhor é negociar. O agro vai sofrer, principalmente com aviação e siderurgia. No Agro, com celulose, suco de laranja, carne bovina e sebo bovino. Mas no bovino, o país pode trocar de comprador, mesmo que os preços possam sentir um pouco”, emendou Felippe Serigati. “A carne brasileira contribui com 14% do consumo americano. Apenas carne moída, para fazer hambúrguer, que eles misturam com gordura. Até mesmo por meio de outros países, que compram da gente. Eles têm déficit de carne, prime e comum. O rebanho deles caiu bastante e não consegue atender o mercado interno. Até por isso a proteína está cara para o americano e conseguimos abastecer com preços atraentes, mesmo com aumento de 50% nas tarifas. Acima de qualquer outro país produtor”, emendou Pedro Gonçalves.
O encontro mostrou a preocupação dos participantes em fazer previsões ‘inicialmente certeiras’. Todos concordam que 2024 foi ótimo. Houve recuperação do preço da carcaça, recorde de 40 milhões de animais abatidos e consumo interno aquecido. Neste ano, os preços estão oscilando, o confinamento vai cair um pouco, com previsão de 8,25 milhões de cabeças, mas a produção de carne segue com tudo. A disponibilidade interna mantém-se em 27 kg por habitante. E o preço do boi deve se manter bom no segundo semestre, como ocorreu ao longo dos últimos anos. E agora, com a oferta mantida pela queda no abate de fêmeas, o que vem sendo verificado nos três últimos meses. O que deve avançar ao longo do ano. “O trabalho da pecuária brasileira foi impressionante nos últimos anos. Digo sempre que o ‘Boi China’ vai virar o ‘Boi Brasil’. Podemos terminar 2025 com machos abatidos de 20 arrobas. Fizemos três revoluções. Nosso zebu é melhor do que o da índia. Melhoramos o capim africano e atuamos forte com a suplementação. Vamos ultrapassar a produção americana em dois anos. Não estamos aqui por acaso. Foi um esforço contínuo e rápido”, contextualizou ‘Scot’. Ele ainda acrescentou que as vendas externas foram históricas no primeiro semestre, com 1,29 milhão de toneladas, participação efetiva da China e dos Estados Unidos, e com perspectiva de passarmos de um milhão de cabeças de animais vivos embarcados neste ano. “Este é um negócio interessante e que agrega mais dinheiro para o pecuarista brasileiro”, acrescentou.
A precaução dos analistas presentes na reunião da Asbram também refletiu na análise da comercialização dos suplementos minerais neste ano. O primeiro semestre fechou com 1.178,6 milhão de toneladas vendidas para fazendas de Corte e Leite, aumento de 3% sobre o mesmo período de 2024. Com destaque para energético e núcleos. Totalizando 66 milhões de cabeças suplementadas no primeiro semestre, avanço de 3,1% sobre o ano anterior. “Os números da economia brasileira permanecem bons, crescimento de 3% em média desde 2022, real valorizado, o agro acelerado, assim como serviços e comércio. Apesar de que bem diferentes da indústria. Mas temos a inegável explosão nos gastos do atual governo federal, que hoje crescem 9,2% ao ano. E a inflação, que vem caindo, mas está longe da meta de 3%, muito aquecida para o Banco Central, que não vai permitir descuido até abaixar esses números. A inadimplência está aumentando, mas nada catastrófico. Agora, podemos ter um bom semestre na suplementação, mas não vamos esquecer que a base de comparação com o segundo semestre do ano passado é forte”, aconselhou Felippe Serigati.
Ele estima que o segmento pode alcançar vendas que variem de 2,3 milhões a 2,59 milhões de toneladas, queda de 9,4% a incremento de 0,85. “Mesmo que o resultado não seja bom, não vamos esquecer que o segundo semestre de 2024 foi a segunda melhor marca histórica”, concluiu. “Hoje, não se pode produzir alimentos de qualquer maneira. Temos que atuar com menos terras, água e mais exigências. E produtividade crescente. O papel da nossa pecuária é fundamental para a segurança alimentar mundial. Nossa carne já vai para mais de 150 países. Serão 11,8 milhões de toneladas produzidas daqui dois anos e temos espaço para fazer melhor, com tecnologia, genética e gestão intensiva”, ratificou Cleocy Junior.