Criadores, profissionais da indústria e pesquisadores apontam que o uso de tecnologia precisa avançar nos rebanhos porque o ciclo pecuário inicia recuperação e a União Europeia pode voltar firme à carne brasileira
O segundo semestre pode marcar um período de recuperação forte da produção de carne bovina e leite no Brasil. Os preços internos da arroba e do leite ainda patinam, mas as exportações da proteína reagiram bem depois da volta da China ao nosso mercado, o ciclo de baixa do setor pode ter chegado ao fim na virada do semestre e a turbulência causada pela guerra Rússia e Ucrânia pode privilegiar as relações comerciais do bloco com o nosso país. O panorama foi desenhado por criadores, pecuaristas, profissionais da indústria e pesquisadores durante o último encontro promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Suplementos Minerais (ASBRAM) na capital paulista, para debater o uso da suplementação mineral na nutrição do rebanho nacional. “A indústria vende para quem necessita aumentar a produção e a produtividade. A cadeia precisa de novas tecnologias para produzir, incessantemente, principalmente na suplementação mineral. Pequenos, médios e grandes pecuaristas. No fundo, a filosofia de trabalho é melhorar a vida dos pecuaristas. Montar uma autêntica parceria de assistência e negócios. E o melhor de tudo é que existe um mundo a ser trabalhado neste caminho”, afirma categoricamente José Neuman Miranda Neiva.
Juliano Sabella – Presidente da Asbram – Foto: Kika Damasceno
Postura referendada pelo presidente da Asbram, Juliano Sabella, que reforça tanto o trabalho de representação da entidade como o esforço das empresas associadas. “Centramos fortemente nesse sentido. Divulgar a importância do suplemento mineral junto aos meios de comunicação e às redes sociais, mas também com o time de vendas e de assistência técnica dos associados. São quinze mil profissionais que estão todo dia no campo, levantando abrindo porteira, levando informação e tecnologia ao produtor. É um time que faz um grande trabalho de extensão rural. Ao lado dos associados que atuam para divulgar todo o custo / benefício positivo da suplementação para a atividade pecuária em todo o Brasil”, reforçou.
E a bovinocultura brasileira é mesmo um mundo. São quase cinco milhões de propriedades rurais e mais de 100 milhões de cabeças que podem usufruir ainda mais com as ofertas da Indústria de Nutrição. Que significam uma garantia de qualidade na produção. Defendida por Maurício Velloso, pecuarista de corte e leite, engenheiro agrônomo, presidente da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (ASSOCON) e integrante da Comissão de Pecuária de Corte da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA) e Câmara Setorial da Carne Bovina do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). “Hoje, há muito mais volatilidade. Por isso, as ferramentas que devem ser usadas pelo bovinocultor são previsão, predição, precisão e voz. São milhões de pessoas dependentes diretos da pecuária. Gente que precisa ganhar dinheiro, pagar as suas contas, produzir mais, ter um animal acabado mais completo. Sem falar que é uma autêntica guerra diária contra o desperdício. Usando pastagens, suplementos minerais, planejando o negócio. Usar bem as ferramentas disponíveis, pois, assim, dá para ganhar dinheiro”, receita Maurício Velloso.
Tanto que ele ressalta o panorama favorável que envolve a pecuária atualmente. “Estamos saindo do fundo do poço do ciclo. A reposição, que representa 60% do negócio, está baratíssima. E a soja e o milho estão em baixa recorde. Um trabalho bem feito vai dar dinheiro. Não considero que seja nenhuma explosão. Tem muito de recuperação e gente profissional, que não torce contra o mercado. Adota ferramentas, está apto. E sabe que é o momento de alavancar o rebanho. Gente que faz a lição de casa na alta e na baixa”, aponta. Maurício conclui, afirmando que é necessário unir a paixão à visão. Acompanhar os movimentos cíclicos. E ficar de olho nos desafios que estão fora da porteira. “Acompanhar a economia brasileira e mundial, guerras, barreiras sanitárias e tributárias. Temos dados em profusão para usarmos dentro da fazenda. E ótimas oportunidades de mercado. Que podem nos levar à excelência. A Assocon atua fortemente nesse sentido, em nome do segmento. Com Escola de Pecuária, orientações sobre boas pastagens, nutrição bem desenvolvida. Vamos, sempre, enfrentar a concorrência de proteínas mais baratas para o consumidor. Só que nosso trabalho é ofertar bastante daqui para frente e ganhar usando a mesma receita. Com venda a prazo, planejando bem a comercialização”, sacramenta.
O otimismo do Maurício pode até ser estendido a um cliente exigente e muitas vezes indócil com o boi brasileiro. A União Europeia. A professora portuguesa Laura Ferreira Pereira, especialista em relações internacionais da Universidade do Minho e tarimbada em política externa internacional, já visitou 25 países e participou da reunião, dando um recado alentador aos pecuaristas brasileiros. “Países como o Brasil devem avaliar bem os passos dados pelos 27 países que integram a União. Eles têm uma ligação histórica com os Estados que falam a Língua Portuguesa, uma comunidade de mais de 300 milhões de pessoas. Analisando com frieza, houve uma boa proximidade de 2010 a 2020. E a União Europeia enxerga com cautela movimentos como a posição geopolítica da China, a guerra entre Rússia e Ucrânia, a saída da Inglaterra do bloco e o período depois da pandemia do Covid-19. São situações que podem forçar a UE a repensar as políticas estratégicas de comércio com países como o Brasil. E os outros parceiros da América Latina. Sem falar da importância crescente de demandas como o Agronegócio e a Energia. Afinal, vivemos sempre novas eras e o Brasil é extremamente relevante nas parcerias estratégicas”, ponderou.
É tudo o que os produtores rurais de carne e leite do Brasil precisam ouvir. O cenário econômico nacional ficou mais otimista, o Produto Interno Bruto (PIB) promete chegar perto de 2% neste ano, o Agro vem sustentado a economia e a posição do Brasil como emergente melhora a cada dia. “O ano começou complicado, mas os primeiros sinais de que o segundo semestre pode ser recompensador já começaram a aparecer”, comemora Elizabeth Chagas, Vice presidente executiva da ASBRAM, profissional calejada em convencer os pecuaristas de que investir no negócio é fundamental, principalmente nos momentos de maior turbulência.
Elizabeth Chagas – Vice presidente executiva da Asbram – Foto: Kika Damasceno
O número de suplementos transacionados nos primeiros seis meses de 2023 está abaixo de 2022, mas vem crescendo aos poucos. A média do ano de animais suplementados já alcança 62 milhões de cabeças. Uma realidade para ser examinada com parcimônia. “Ainda não estamos tão confiantes nos números da economia em geral. O mercado interno precisa ficar mais forte e não podemos deixar de ficar atentos à inflação, principalmente nos serviços. A produtividade foi ótima no agro nestes anos, mas para a economia nacional seria melhor assistirmos a uma evolução semelhante onde está a maioria da população brasileira, nas seis regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, de São Paulo, Minas Gerais, do Recife, de Salvador e Porto Alegre, onde está a maior fração da sociedade. Entretanto, as agências internacionais enxergam com bons olhos as decisões tomadas neste ano pelo Congresso Nacional e há bons resultados aqui e ali”, reflete Felippe Cauê Serigatti, Professor de economia na Fundação Getúlio Vargas, pesquisador do centro de agronegócios da FGV (GV Agro) e Coordenador do Painel de Estatísticas da ASBRAM.
Os bons resultados deste período são os motores que a Pecuária do Brasil utiliza para os próximos meses. De olho no consumidor brasileiro e no comprador internacional. “Nossa potência para produzir alimentos e pensar na China traz um impacto significativo para nossa cadeia. O Suplemento fornece minerais essenciais para a saúde e o rendimento dos animais. Mais de 90% do nosso rebanho passa a vida inteira no pasto e as gramíneas tropicais não fornecem todos os elementos de que precisam. O suplemento garante altos níveis de produção. E a relação com a sustentabilidade é estreita. Aumentar produtividade é encurtar a idade de abate, usar os mesmos recursos para produzir mais carne e leite por área. Acelerando o desempenho animal em um período mais curto. Os produtores conhecem a importância dos suplementos. E as corporações do setor trabalham exatamente nesse sentido”, arremata Juliano Sabella.